Que há muito “mi-mim-mi” no mundo atual, realmente, é fato. Contudo, relativizar as ações e posturas não é o caminho mais indicado para um político. Na última quinta-feira, o presidente Lula concedeu entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, na Rede TV!. No dia seguinte, o Portal UOL estampou em uma de suas chamadas: “RedeTV!: Lula usa linguagem ultrapassada ao citar ‘índio’ e ‘opção’ sexual”.
De fato, os termos usados por Lula estão fora do “politicamente correto” do “momento”. (Sim, do momento, pois, há quase quatro décadas, nos meus anos escolares iniciais, comemorávamos em 19 de abril o “Dia do Índio”!). No entanto, quem acompanhou a entrevista e conhece as políticas públicas defendidas por Lula, sabe que o presidente não usou os termos como forma de menosprezo a estes segmentos sociais.
Lula é, sem dúvida, um dos mais vitoriosos políticos de que se tem notícia. Afinal, não é qualquer cidadão que passa 580 dias preso e – na eleição seguinte a sua libertação – se elege para exercer seu terceiro mandato como presidente da República de uma das principais economias do mundo.
Também é inegável o poder de comunicação de Lula e, essencialmente, a capacidade que possui em fazer sua mensagem ser compreendida por todos, independe de setor da sociedade ou de faixa social.
Qual é o problema de comunicação política?
Dizer termos “ultrapassados”, mas que não soam como desprezo por quem tem um longa história de luta e políticas públicas a estes segmentos da sociedade, mesmo sendo empregados por um político de espectro à esquerda, portanto, ligado a estas bandeiras, não deveria ser a pauta da mídia. Porém, foi. O jornalismo contemporâneo encampou o ritmo e o estilo de bolhas das redes sociais. A informação perde cada vez mais espaço para as “análises”. As manchetes deixam de ser informativas e buscam “chocar”. Afinal, cliques e compartilhamentos ditam o engajamento e a nova ordem de audiência.
Empregar termos fora do politicamente correto em suas declarações é um problema para um parlamentar ou um candidato temático (aquele que defende uma causa, um segmento específico), mas não deveria, desde que não os utilize de forma jocosa, ser visto como motivo de críticas a um líder que ocupa um cargo executivo (que precisa se comunicar e ser ter suas palavras compreendidas por todo o conjunto da sociedade), como o presidente de um País. O político temático tem a obrigação de saber os detalhes da bandeira que levanta em torno de sua atuação.
Se não sou político temático, posso me expressar de qualquer forma?
A questão, então, é: o “escorregão” vale a pena, mesmo no caso de Lula? Como profissional em comunicação política, asseguro que não. Observe que a entrevista teve pontos interessantes, mas o mi-mi-mi sempre será mais forte que qualquer mensagem positiva. Lembra-se que, há pouco, me referi sobre mudanças conceituais do jornalismo?!
Pois, é. Mesmo um político experiente precisa ter uma assessoria profissional e que constantemente se requalifica. É função de assessoria preparar, atualizar e ajustar o discurso e tom da comunicação de um mandatário ou de um candidato.
Afinal, conceitos e formas de se expressar têm mudado na velocidade do zap – aqui, para usar um termo preferido de outro político, Jair Bolsonaro, que também é um ótimo comunicador político, mas que atua dentro de um núcleo segmentado do eleitorado – (o estilo de comunicação de Bolsonaro é tema para outra análise).
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